“Quanto mais alegria existir dentro de campo, maior será o rendimento”
A essência do jogo e a maneira como se criam espaços, foram os temas de um encontro entre Paco Jémez, Eusebio Sacristán, Javier Calleja e Isaac Guerrero. A conversa girou em torno de um ponto comum, um desafio que o futebol precisa enfrentar. “Sem dor, não há vitória”, lembrou Guerrero. Entretanto, estes três técnicos defendem sistemas de jogo que, acima de tudo, trazem alegria para os atletas profissionais do futebol. Jamais podemos esquecer que o futebol é um jogo e isso é o mais importante.
No final da temporada de 2012 e 2013, Paco Jémez conseguiu fazer de seu time o terceiro com um maior percentual de posse de bola da Europa, ficando atrás apenas do FC Barcelona, campeão da Liga espanhola e do Bayern de Munique, campeão europeu. A notícia viralizou, isto porque seu clube na época era o Rayo Vallecano, a equipe que contava com poucos recursos se comparada com a elite do continente. Em seu discurso, Jémez revelou que, o papel do técnico é o seu comprometimento com a ideia que pretende transmitir aos seus atletas. “É como se tivesse um radar para identificar a credibilidade do que está dizendo”, explicou ele.
Especialmente em seu caso, o problema está em um modelo baseado na posse de bola, que muitas vezes “você entra em choque com a realidade”, mas é preciso correr este risco, se quiser ser associativo e tirar a bola por trás. O seu fundamento é a necessidade de fazer com que o atleta entenda que nem sempre se sairá bem e que, quando isso acontecer, o técnico estará ali para apoiá-lo. E ele ressalta: “no futebol não há uma fórmula mágica para vencer, vencer e vencer”.
Quanto aos espaços, o que da questão, disse que é preciso conquistá-los, mas sem se obsessões por eles, uma vez que no futebol eles aparecem e desaparecem a uma velocidade surpreendente. Isso não significa que as equipes devam permitir a posse de bola em áreas não produtivas.
Ele também concordou muito com as palavras de Angel Cappa de que a pausa trás velocidade ao jogo. Entretanto, sentiu falta de um perfil de atleta que tem sido muito difícil de encontrar nos últimos anos. Este perfil tem a ver com o atleta que consegue “ler” um jogo, que tenha visão de jogo e que interioriza os ritmos de uma partida.
Porém, lamentou que, esses atletas existem. E que conseguem se deslocarem de uma zona para outra rapidamente com mais força, mas não entendem tão bem o jogo em si. Mesmo que, tenham reconhecido que, o conceito “devagar se vai ao longe”, isso é contra a natureza do futebol. E um detalhe este que serviu para elogiar seu companheiro: “Eusebio seria um bom exemplo, não era um grande corredor, mas seu jogo era o mais ágil de todos, porque pensava rápido”.
No entanto, ele defendeu os fundamentos de sua filosofia com o forte argumento de que, se você conseguir que um adversário passe noventa por cento do tempo de um jogo na defesa, os outros dez por cento que sobram serão para o ataque, o que “oferecerá poucas chances de vencer”.
Para Eusebio Sacristán, sua afinidade com este modelo de jogo se deve ao fato de acreditar que “faz o atleta se sentir melhor”. Em seu caso, ficou fascinado quando Johan Cruyff desenhou um losango com duas extremidades abertas no meio de um quadro, em virtude do primeiro jogo que iriam disputar juntos, um 3-4-3, o que o levou a aproveitar ao máximo esta estratégia.
Eusebio defende o atleta inteligente, aquele que pode decidir por si mesmo se deve conduzir o jogo com rapidez ou fazer pausas. Entretanto, como técnico, trata de gerar automatismos na equipe para que ela seja capaz de superar as dificuldades que o adversário impõe e ao mesmo tempo gerar movimentos de defesa, ao abrir espaços.
Além disso, ele exigiu que, nas categorias inferiores, a polivalência dos atletas profissionais de futebol seja melhor trabalhada. Há muitos casos em que o centro avante lateral sai da posição central para dar uma melhor saída da bola ou um centroavante porque acima não convence. É importante que o atleta seja treinado em várias posições, pois ele nunca saberá qual será sua chance de dar o melhor de si.
Javier Calleja alertou que, com todas as fórmulas de jogo, podemos ganhar ou perder. A única certeza que temos é que as áreas são decisivas e devemos tentar passar o máximo de tempo possível no campo do adversário ou chegar lá sempre que possível. Como um único passe é impossível, vem o papel do técnico na busca de estratégias e na sequência, o atleta é estimulado a interpretar o jogo, sendo que as vezes é preciso serem mais pacientes. Se o adversário está muito atrás, ir na frente contra ele é o mesmo que bater de frente com um muro. Nesta situação é preciso mover a bola no intuito de desorganizá-los. No entanto, o fato de ter a posse da bola também significa, particularmente, o sentimento de pressão após perdê-la. Ambos os conceitos são duas faces de uma mesma moeda que o atleta precisa ter conhecimento e estar preparado.