“Os jogos são guardados na memória, pelas estatísticas ou pelo vídeo, o VR permite reproduzir cada jogada da forma mais confiável”
A ascensão da análise de dados tem um objetivo fundamental: que os clubes de futebol tomem mais decisões com base na ciência e confiem menos na intuição. No entanto, em cada jogo são gerados tantos dados que nunca são totalmente aproveitados. São dados que correm o risco de ser só isso: dados. Para coletar todos da forma mais visual e sintética possível, Andrés Samano, cofundador da Colstats, preparou um artigo, em conjunto com o Centro de Inovação Tecnológica da Liga MX. Uma comparação do estudo de imagens em Realidade Virtual (VR) com outros formatos.
O objetivo é que o usuário – treinadores ou jogadores – não perca tempo analisando dados ou decifrando informações e invista toda sua energia para entender o jogo com o máximo de informações possível. Hoje, a ferramenta virtual permite recriar as jogadas tal como aconteceram e possibilita a análise profunda das probabilidades, ou seja, o que também poderia ter acontecido. Além de permitir ver a jogada a partir dos olhos do jogador que está no campo.
A comparação foi feita com Alfonso Sosa, um dos treinadores mexicanos de maior sucesso. Ele viu o mesmo jogo no vídeo, duas dimensões e realidade virtual. Apenas com o VR ele percebeu que um jogador deveria estar dois metros deslocado à sua esquerda para manter o domínio de zona de seu time. A visualização, em duas cores, azul e vermelho, indicaria com precisão as áreas do campo dominadas por cada equipe.
O VR já foi utilizado na Copa do Mundo 2018 para analisar os jogos na televisão mexicana. Sua grande vantagem é que é compatível com todos os adventos técnicos que podem ser produzidos neste campo. Outra vantagem para o futuro deste aplicativo está no arquivo do que já aconteceu nos campos de jogo. Até agora, dependia-se da memória, das estatísticas ou do vídeo. O VR seria uma quarta opção que permite reviver cada jogada da maneira mais confiável possível.
Diálogos entre futebol e handebol
Anselmo Ruiz, analista de dados de futebol e handebol, propôs uma comparação dos dados que podem ser obtidos em cada esporte para diferenciar aqueles que são incompatíveis e exclusivos e aqueles que podem nos ajudar a ter uma nova perspectiva se forem cruzados.
Até agora, o desafio de comparar os dois esportes têm sido delinear o conceito de posse. No futebol existem muitas fases em que a posse de bola não pode ser considerada, como em jogadas confusas do jogo, por exemplo, ou em um escanteio.
Desta forma, no handebol há uma média de 51 posses por jogo, entre 49 e 53, e no futebol, 83, entre 80 e 84, se eliminarmos os momentos mencionados. Esses dados são essenciais para poder calcular posteriormente a eficácia de cada posse, como se faz no handebol, explicou.
Curiosamente, ao avaliar cada ataque, no futebol a média de chutes de gol com um goleiro acabando em um gol é de 30%. No handebol, é exatamente o contrário. 70% dos lançamentos com goleiro acabam em gol. Isso produz dados sobre a taxa de sucesso em cada esporte muito desiguais. De 51% no handebol e de 1,5 no futebol.
Ao analisar essa eficácia, encontramos que no jogo posicional, a eficácia do futebol é de 1,4% contra 48% no handebol. No contra-ataque, passaria de 2,5% no futebol, e 61% no handebol. Em suma, a probabilidade de marcar um gol no jogo é de 1,3% no futebol e 49% no handebol. Um fato que serve de contraste são as jogadas de bola parada, onde a relação se inverte. No futebol a probabilidade de gols sobe para 3,8% e no handebol cai para 45%.
Com esse tipo de comparação, o futebol pode aprender com o handebol ao apresentar os dados de jogo por meio da eficácia da posse de bola, além de classificar os tipos de circulação da bola, os procedimentos táticos durante uma posse e dividir os esquemas de jogo em defensivos e ofensivos.