Um dos mitos mais difundidos no futebol é a existência do gol psicológico. O gol psicológico é aquele que é marcado nos últimos minutos do primeiro tempo, pouco antes do jogo ser interrompido e as equipes seguirem para os vestiários. Acredita-se que receber um gol naquele exato momento pode prejudicar definitivamente a confiança dos jogadores em suas chances de vencer o jogo. Mas então, é verdade que existem os gols psicológicos? As equipes que recebem um gol nos momentos finais do primeiro tempo acabam perdendo os jogos?
Mito ou realidade?
Não existem muitas pesquisas que tenham estudado a existência do gol psicológico e sua influência no resultado das partidas. O trabalho que melhor analisou se o melhor/pior momento para marcar/receber um golo é imediatamente antes do intervalo baseia-se na análise de 1.179 jogos da UEFA Champions League e UEFA Europa League entre as temporadas de 2008 e 20141. É importante levar em conta que foram excluídos da análise todos os jogos em que alguma das equipes não tivesse nada a perder, seja por já terem sido eliminados da competição ou por já estarem classificados como primeiros do grupo. Em 9% dos jogos, um gol foi marcado entre os 45 minutos e o final do primeiro tempo, já o percentual sobe para 17% quando são contabilizados os gols marcados desde o minuto 41 até o final do primeiro tempo.
De acordo com o modelo matemático proposto pelos autores, se os times locais marcarem um gol entre o minuto 45 e o final do primeiro tempo, espera-se que …a diferença de gols no final da partida caia em 0,52 gols! Isto quer dizer que, se o time da casa marcar 1-0 nos acréscimos do primeiro tempo, o resultado final da partida provavelmente será um empate. No entanto, marcar um gol em outro momento do primeiro tempo não tem essa consequência negativa. Os gols marcados pelos times visitantes nos acréscimos do primeiro tempo não influenciaram na diferença final de gols entre as equipes. Ou seja, parece haver um efeito psicológico sim quando os times da casa marcam um gol nos descontos do primeiro tempo. Mas as consequências não são positivas. Pelo contrário. Além disso, para as equipes visitantes, a marcação de um gol naquele momento, não parece afetar tanto positiva quanto negativamente. A Tabela 1 mostra o resultado final das partidas com base no placar do 1º tempo, e dos gols e cartões vermelhos que ocorrem nos descontos do primeiro tempo.
As razões para um possível gol psicológico
Os pesquisadores encontraram outros dois fatores bastante relevantes para explicar o placar final das partidas. Uma expulsão da equipe da casa na primeira parte reduz em quase 1 gol a diferença de gols no final do jogo. Ou seja, se no final do primeiro tempo o placar fosse 1 a 0 em favor da equipe da casa, mas um jogador deles for expulso, a expectativa é que acabe empatando o jogo. Além disso, a diferença de gols ao final do primeiro tempo é o fator mais importante para explicar o resultado final. Os pesquisadores também mostraram que o mesmo efeito de marcar um gol entre o minuto 45 e antes do intervalo também está presente, embora com um pouco menos de força, quando um gol é marcado nos minutos 41, 42, 43 e 44.
Os motivos que podem explicar este inesperado efeito dos gols psicológicos são diversos:
- Um gol antes do intervalo pode levar a alguma descompressão, ou seja, a uma redução da pressão. Um gol da equipe da casa antes do intervalo pode fazer a diferença entre ir ao vestiário entre aplausos ou assobios e reclamações. Por isso, marcar um gol nesse momento pode causar, inconscientemente, um certo relaxamento com a sensação de ter conseguido algo definitivo no jogo.
- Uma modificação das expectativas percebidas de sucesso/fracasso no jogo. Esse gol pode levar à crença de que tudo está perdido, ou muito pelo contrário: já ganhamos.
- Uma redefinição dos objetivos do jogo. Os treinadores das equipes que recebem um gol podem fazer mudanças na abordagem do jogo, apostando em um estilo mais ofensivo em relação ao apresentado até aquele momento. Da mesma forma, as equipes da casa podem perceber que agora trata-se de manter o resultado, preferindo assim um estilo mais defensivo.
- O surgimento de crises psicológicas que podem alterar as habilidades dos atletas para enfrentar as demandas e necessidades da competição e influenciar negativamente nos níveis de ativação e na confiança nos colegas.
Porém, como sugere Pep Marí, não existe uma categoria de gol especificamente que seja psicológico. Todos eles são psicológicos porque todos podem ter consequências positivas ou negativas para as equipes. Depende de como as equipes administram esses momentos. É preciso ter recursos para garantir que um sucesso parcial no jogo, como um gol, não afete negativamente nossa equipe. O fato de um gol a favor não virar contra tem muito a ver com o controle da ativação dos jogadores, o trabalho preventivo para adquirir respostas individuais e grupais adequadas em momentos de crise, estabelecendo objetivos específicos para o segundo tempo ao invés de sair para ganhar sem mais ou tendo respostas técnico-táticas bem treinadas para cada cenário de jogo2,3.

Referências:
1 Baert, S. & Amez, S. (2018). No better moment to score a goal than just before half time? A soccer myth statistically tested. Plos One, 13(3): e0194255.
2 Lago Peñas, C. & Gómez, M. (2020). El jugador número 12. La ventaja de jugar en casa en el fútbol. Edição dos autores.
3 Gómez, M., Pollard, R. & Lago-Peñas, C. (2021). Home Advantage in Sport. Causes and the Effect on Performance. London: Routledge.
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