O treino que imita o jogo da partida
Três ou quatro dias antes do jogo, o “modelo Barça” exige que os jogadores se esforcem fisicamente até à sua máxima intensidade, através de uma combinação de sessões de ginásio e de campo (a última consiste em exercícios de treino posicional, com recurso a várias dimensões).
Isto significa que todas as sessões de treino incluíam exercícios que tivessem um foco combinado (físico, técnico e tático). De um ponto de vista geral, alguns clubes ainda incluem muita preparação física baseada na corrida, mas o Barça focou-se especificamente em exercícios físicos/táticos que imitam os principais momentos de uma partida e simulam certas situações de jogo.
Manter-se fresco
Como o modelo Barça combina todos os aspetos do treino, a duração destas sessões foi de mais de dez minutos a menos do que a de outros clubes de elite (pode parecer pouco, mas o tempo acumulado ao longo da temporada é significativo). Isto permite que os jogadores se mantenham frescos. Um ou dois dias antes de uma partida, o modelo concentra-se principalmente na preparação técnica e tática através de sequências de controlo e passe — um jogo posicional com um número reduzido de jogadores por equipa e exercícios táticos, como jogadas ensaiadas.
As medições da carga de treino (por exemplo, a distância de alta intensidade percorrida por um jogador num treino e o número de acelerações) diminuíram à medida que a partida se aproximava, devido a uma estratégia de tapering especial (que consiste em reduzir o exercício nos dias anteriores a uma grande competição). Desta forma, os treinadores aliviam a carga física dos jogadores, permitindo que se concentrem na parte tática e técnica. Isto garante que estarão atentos e que terão reflexos rápidos no dia do jogo.
A preparação
Outra diferença fundamental que a nossa investigação revelou foi a forma como o Barça trabalha com jogadores que não tenham participado em muitos jogos de forma a mantê-los preparados para a partida. No modelo Barça, espera-se que os jogadores regressem aos treinos nos dias seguintes ao jogo. Por exemplo, estas sessões envolviam dividir a equipa em dois grupos de treino. O primeiro grupo incluía jogadores que tivessem estado mais de 60 minutos em jogo. Este grupo realizou atividades de baixo impacto combinadas com exercícios de regeneração para ajudar na recuperação.
Os jogadores que tivessem estado menos de 60 minutos em jogo, e que precisavam de desenvolver a parte física e tática, participaram num circuito técnico/tático (exercícios de condicionamento realizados sequencialmente), seguido de um intenso exercício posicional e de um jogo reduzido. Este treino adicional forneceu o estímulo apropriado para manter a capacidade física dos jogadores, representando uma ferramenta importante utilizada pelos treinadores para garantir que os jogadores com tempo limitado de jogo estejam física, técnica e taticamente preparados quando selecionados.
Parece que o modelo Barça procura variar a carga física/tática colocada sobre os jogadores ao longo de uma semana normal e da temporada para permitir que o rendimento de todos os jogadores continue a ser elevado, incluindo o daqueles que não jogam tanto tempo.
Então, o que é o “modelo Barça”? Parece que não é só o famosotiki-taka e exercícios de passes de um toque. É sim uma filosofia única, combinada com um excelente aconselhamento e com a ciência desportiva de vanguarda. Envolve uma compreensão mais complexa daquilo que leva os jogadores a fazerem o que fazem.
As táticas são fundamentais, assim como o descanso e a recuperação, e muitos clubes de elite farão as suas próprias versões deste modelo. No entanto, a nossa investigação oferece uma visão única daquilo que faz com que um dos maiores clubes de futebol da Europa seja o que é.
Paul Bradley
Reader in Sports Performance, Liverpool John Moores Universit
Publicado em The Conversation